SOLIDARIEDADE AO LÍDER TUKANO PEDRO MACHADO


SOLIDARIEDADE AO LÍDER TUKANO PEDRO MACHADO, IRMÃO DO CACIQUE CARLOS TUKANO DA ALDEIA DO MARACANÃ
Os Tukano são um povo do noroeste do Amazonas (conhecida como Cabeça de Cachorro), de cerca de 10 mil indígenas espalhados no Triângulo Tukano. Os Tukano da Reserva Indígena de Pari Cachoeira tiveram contato com a sociedade não-indígena por volta de 1940, com o ingresso do antigo Serviço de Proteção ao Índio (SPI) naquela região. Começou uma longa, duradoura e profunda dor por terem sido prisioneiros, com inúmeras vítimas, exterminação de aldeias, proibidos de falarem a sua língua, de morar juntos nas suas malocas (separaram em cada casa todo o povo indígena), proibidos de realizar seus próprios rituais xamânicos (desrespeito aos pajés, cânticos, mitos, sendo assim condenados por 45 anos) com sessões de torturas, espancamentos, genocídio, etnocídio até que os revolucionários Carlos Tukano junto aos seus irmãos Pedro Machado (hoje no hospital, em estado grave de saúde) e Álvaro Tukano e todo o seu povo dispuseram as suas próprias vidas em grito de liberdade, libertando seu povo de 45 anos dos miseráveis capuchinhos, salesianos e da Ação Católica. Na década de 80 participaram ativamente da Constituinte e fundaram a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, e várias lideranças do povo Tukano se destacaram como Álvaro Tukano (irmão de Pedro e Carlos) e Carlos Tukano, cacique e representante da Aldeia Maracanã na cidade do Rio de Janeiro.
DO PEDIDO DE SOLIDARIEDADE
Pedro Machado (etnia Tukano) 60 anos, da Reserva Indígena de Pari Cachoeira, Município de São Gabriel da Cachoeira. O indígena Pedro está com problema de saúde grave. Ele precisa realizar exames gástricos (endoscopia etc), assim como ultrassonografias de fígado e rins, e mais consultas médicas, ajuda para locomoção para Manaus, para atendimento melhor – pois na reserva não há recursos melhores de médicos. Este agravante de saúde está acontecendo há mais de três meses. Foi diagnosticado câncer de pâncreas. Vai ser necessário fazer cirurgia. Por isso, precisa de ajuda financeira para o tratamento.
AGÊNCIA: 1136-3
CONTA CORRENTE: 8700-9 BANCO DO BRASIL NO NOME DE LUCELIA MACHADO DIAS (SOBRINHA DE PEDRO)
CELULAR 041 92 8151-4445 (LUCÉLIA)
PEDRO MACHADO TUKANO 041 97 8113-4743 OU 8113-4743
CARLOS TUKANO 041 21 8376-5987
Entrevista com Pedro Machado, líder Tukano
Sem pajé, índio quer pesquisa com plantas

por Luciana Christante em 08/06/2010

Autor de frases de impacto, como “O que os europeus fizeram aqui foi um etnocídio” e “A tradição indígena é um copo quebrado”, Pedro Fernandes Machado, de 56 anos, da etnia Tukano, mostra nesta entrevista que os povos indígenas da região do alto rio Negro estão mais mobilizados do que nunca. Entendem qual é a importância de receber pesquisadores em suas terras e querem participar de perto desse processo para não correr o risco de que o conhecimento seja levado embora sem quem eles sejam beneficiados de alguma forma. Pedro é um dos fundadores da Foirn (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro) e hoje é representante da Funai na federação.

UC – Qual é a sua experiência com pesquisadores que já vieram à região?
Pedro Fernandes Machado – No princípio nós não tínhamos noção do papel do pesquisador e da finalidade dele, então ninguém discutia. Eu posso falar que já passaram aqui pelo alto rio Negro muitos pesquisadores, mas quanto ao retorno, quase não se vê. Nós nunca discutíamos, sempre fomos passivos, era ouvir e aceitar. Agora não, nós não aceitamos passivos e não ficamos quietos, nós queremos discutir, queremos saber e queremos ter o que é de nosso direito. Com a criação da política indígena do alto rio Negro, com a Foirn, de 1990 para cá a gente tenta entender qual é o papel do pesquisador.

UC – A demarcação de terra foi importante nesse processo…
Pedro - Sim, antes nós não tínhamos um campo exclusivo nosso para discutir sobre os fatos que acontecem na nossa região e tratar de tudo o que nós temos, dos recursos naturais, dos conhecimentos tradicionais, das riquezas como um todo. A demarcação de terra sempre foi o desejo dos povos indígenas. O Estado brasileiro tinha seus governos, suas estruturas, os indígenas não. Não que isso não faça do indígena parte da sociedade nacional. Mas quando ele se envolve no meio de outras pessoas que não são índio, não é muito ativo, assim, de participar da discussão. Ele parece que se fecha e a outra pessoa nunca vai saber o que ele quer. Então tornou-se um sistema de ser subordinado, subalterno. Hoje não, você deve ter visto aí o pessoal falando dos direitos, de patente, disso, daquilo. Então muitas das vezes eu não interfiro, deixo eles falarem. Quero ver qual vai ser o resultado depois da discussão.

UC – Abrahão França (diretor-presidente da Foirn) lembrou a polêmica em torno da pimenta Baniwa (uma mistura de especiarias que foi comercializada pelos Baniwa com o nome deles, mas que também é feita por outras etnias que não estão ganhando com isso; saiba mais). Como você vê essa questão?
Pedro -
É verdade o que ele fala, está correto. Realmente, todas as etnias indígenas do alto rio Negro são muito parecidas. O povo Baniwa foi muito influenciado pelo pessoal do ISA (Instituto Socioambiental), que está sempre com eles lá, e faz tempo, então eles avançaram muito. Todos os indígenas têm mesmo esse material, só que aí os Baniwa, tendo mais conhecimento por causa da orientação do pessoal do ISA, avançaram mais, então eles colocaram [o nome na pimenta] dizendo que é deles. Aí criou esse impasse.

UC – E vocês querem evitar que isso aconteça de novo…
Pedro – É, porque se torna uma barreira entre os povos indígenas. Isso tem que ser levado com muito cuidado pra não desfazer de ninguém. Quando se fala de patentear o produto* é um caso sério, porque todo mundo quer ganhar dinheiro. Hoje o índio é diferente, ele quer ganhar dinheiro também. Só que aí eu vejo que ele ainda não é um bom empreendedor. Ele pensa ser às vezes, mas não é ainda, porque ainda não temos experiência prática, real, e tivemos uma experiência infeliz também. Na década de 80, por exemplo, aqui no alto rio Negro, na serra do Traíra, área dos Baniwa e dos Ianomami, houve grande extração de minério. Muitos pegaram ouro. Os indígenas do Tiquié – a minha região – pegaram 600 gramas, um quilo, dois quilos. Eles conseguiram muito dinheiro, mas não souberam investir. Vejo que o índio pensa em gastar tudo agora fazendo festa por aí e acabou. Então isso deixa um pouco de receio quando falamos de economia. Tem que ter cuidado.

* A pimenta Baniwa não foi patenteada, veja mais detalhes.

UC – Qual sua impressão sobre a vinda do grupo do professor Lin Chau Ming?
Pedro - O grupo veio diretamente envolvido com o Ifam [Instituto Federal do Amazonas], que é um órgão do governo, de educação, de formação, então dá a entender que o trabalho que ele quer fazer abrange a necessidade de uma sociedade. Sendo assim, é viável de primeira vista ter uma certa confiança no que ele fala. Eu digo assim porque ele não se infiltrou em cima de um grupinho de indígenas, por exemplo. Ele se envolveu com os professores, sejam índios ou não. Ele convida a Foirn, a Funai, então eu vejo uma massa de gente de vários órgãos e associações onde [o estudo] foi discutido, por isso eu vejo uma diferença [com outros pesquisadores que já foram à região]. Por exemplo, o ISA não faz isso, fica só com a diretoria e os outros não sabem o que trataram. Quando sabem, já foi feito. É esse tipo de coisa que nós não aceitamos, eu pelo menos não aceito, tem que ser uma coisa do povo.

UC – Você acha que o tempo que os pesquisadores têm é adequado pra fazer o que eles querem fazer?
Pedro - Veja bem, eu sempre digo que, quando se trata do tempo, quem vem de fora realmente não conhece nossa região e calcula mal o tempo. Por exemplo, o grupo já vai embora no sábado, hoje estamos na terça-feira e estamos começando a conversar, então só tem quarta, quinta e sexta pra fazer essas viagens. Por mais que sejam próximas [as comunidades], [as anuências dos índios para que os pesquisadores estudem a terra deles] não vão sair assim tão rápido, então isso requer um tempo. O tempo que ele colocou fica na contra-mão pra fazer acontecer as coisas de acordo com as necessidades.

UC – Ainda há muita coisa na mata para ser pesquisada?
Pedro - Muita coisa já foi, só que a gente não teve retorno, nem pra informação, banco de dados, por exemplo. A região aqui é grande, dividida em cinco partes pela Foirn. Na minha, que é da calha do rio Tiquié, nós não temos nenhuma restrição. Se vemos que é bom pra nós, não tem problema nenhum, pode pesquisar, desde que diga o que descobriu e o que vai ser feito. Vamos discutir os resultados. E temos de ser cautelosos e práticos porque senão a pessoa que vem fazer as coisas pra beneficiar a sociedade pode de repente desanimar e não fazer mais. E em vez de ganhar vou terminar perdendo tudo. Mas temos de olhar a região como um todo, porque ela é grande, precisa de pesquisa e precisa de resultados positivos pra benefício da própria população e claro de quem pesquisa, que afinal é trabalho dele. Sem pesquisador não teríamos resultado da ciência e tecnologia.

UC – Inclusive porque, como você comentou, não tem mais pajé por aqui. Como é isso?
Pedro - Esse conhecimento já se perdeu, eu não vou ficar me iludindo. Quando era criança eu via as coisas serem destruídas. Talvez os Baniwa ainda tenham [pajés], mas nós os Tukano, a maior parte, acho que 95%, 97% se perdeu. Muito pouca coisa se sabe. Senão, nesses últimos 20 anos que se fala tanto de cultura, de resgate, estaríamos vendo o surgimento de novos pajés, de novos benzedores.

UC – Você acha que ainda é possível resgatar esse conhecimento?
Pedro - É impossível. O índio nunca escreveu livro. Quando a pessoa morre leva tudo. Não tem como recuperar isso. Por isso eu sou favorável à tecnologia, à ciência de pesquisar as plantas, as raízes, pra transformar em remédio. Eu por exemplo tenho uma filha de 19 anos, logo ela vai formar a família dela, então ela vai ter que aprender como os que não são indígenas fazem quando vão ter filho, qual seu sistema pra não ter doença. Eu tenho que aprender isso, porque eu não tenho pajé. Eu não sei nada nada de benzimento, então não vou ficar me iludindo, não adianta eu falar de benzimento, de tradições e estar nesse estado de apresentação.

Foto: Guilherme Gomes


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