segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Vídeo - Paulo Ghiraldelli Pede o Apoio dos Filósofos do Brasil para Romper com o Ódio, a Indiferença e o Preconceito Contra o Outro –


(Foto por Bruno Costa)

O Pensador Paulo Ghiraldelli, autor de O que é Pedagogia, O que é Pragmatismo, entre outros 27 livros, faz um apelo à comunidade filosófica brasileira, docente e discente, clamando para que não reproduzam na vida acadêmica os papéis de “colonizadores” ou “capitães do mato”.

O filósofo argumenta que, por parte da sociedade neo-brasileira contemporânea, o indígena é assimilado simplesmente como "ridículo" (homem de língua, cultura e cosmologia inassimiláveis dentro da ideologia ditada pelo pragmatismo capitalista, tangida pelas exigências criadas pela indústria do consumo e pelo culto à ciência e à tecnologia); porém, quando o indígena não reproduz o que o senso comum dele espera, ou seja, quando, se afastando do que é reputado pela lógica urbana vigente como "anacrônico", "exótico" ou "ridículo", insere-se, de algum modo, na cultura e nas relações de poder da sociedade envolvente por meio de jeans, laptops, celulares, cargos públicos ou mestrados e doutorados, saindo do estigma de "homem primitivo", ele é visto como "falso índio".

Ghiraldelli afirma que, para o nosso senso comum, "se não estiver de tanga e cocar, sem saber falar português", aquele que se declara indígena e levanta a voz como tal é um farsante - e aquele que é visto como farsante pode se tornar vítima do ódio.

Todo o ódio, segundo Ghiraldelli, que a direita política reservava às mulheres e os negros está hoje reservado aos índios - e essa ideologia, observa o Acampamento Indígena Revolucionário (AIR), se infiltrou insidiosamente no Estado Brasileiro, com as sociedades indígenas vistas hoje como anacrônicas, inconvenientes e incompatíveis com as necessidades do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

Paulo Ghiraldelli, considerando que os intelectuais, não raro, sobrevivem na Academia emprestando a sua pena aos grupos de poder à direita e à esquerda, lamenta que indivíduos como Denis Rosenfield emprestem a sua inteligência à riqueza dos poderosos (e contra os direitos dos Povos Originários), usando o vocabulário do colonizador e do capitão do mato para dar verniz intelectual e caução acadêmica ao rol de preconceitos que alimentam o ódio étnico-racial e o ódio étnico-religioso.

Segundo o professor Ghiraldelli, o aval da Academia à "ideologia do capitão do mato", expresso nos artigos de Rosenfield e de parte da intelectualidade, tanto no campo da situação quanto na oposição à atual gestão federal, significa em termos históricos e humanos "a vitória da crueldade, a vitória da má-vontade, a permanência da vida não-generosa".

O ódio instalado no coração das pessoas, considera Ghiraldelli, extrapola o campo da facção mais radical da direita, é um ódio que alcança também indivíduos não identificados com a direita política, podendo mesmo estar vinculados à esquerda (partidária ou não): "a direita, no caso de Rosenfield, faz o papel de trombone, faz barulho, mas o problema não é o barulho, o problema, no caso, é o silêncio, pois silenciosos são os mandatários do mal".

Foi no silêncio que Márcio Meira e Luiz Inácio Lula da Silva assinaram o famigerado decreto 7056/09, retirando Direitos Indígenas garantidos constitucionalmente e fechando Postos e Administrações Regionais da Funai; é com o auxílio do silenciamento midiático que o Estado Brasileiro retira as garantias dos Povos Originários, flexibiliza os seus Territórios e todas as noções de impacto sócioambiental (ainda retirando a lotação e a atribuição dos servidores que deveriam protegê-los e fechando as portas destinadas ao atendimento de suas demandas); é sob o silêncio da mídia corporativa que o Governo Luis Inácio Lula da Silva reprime - com um vigor que extrapola a Constituição Brasileira e as leis internacionais de Direitos Humanos - pais e mães de família indígenas, crianças, gestantes e idosos indígenas por protestarem contra violações à Constituição Federal e ao Direito Internacional perpetradas pela União Federal; é por meio do silenciamento da verdade (ou de parte de verdade) que publicações da imprensa burguesa, tanto à direita quanto à "esquerda" do espectro político, tais como "Veja" ou "Caros Amigos", tentam neutralizar a Resistência Autêntica dos Povos Indígenas Brasileiros às ações criminosas do Estado Brasileiro a serviço do mais reles capitalismo ("crescimento", em linguagem eleitoral petista); o próprio silêncio operacional do Estado Brasileiro, com o presidente da Funai, Márcio Meira, se negando quatro vezes a atender convocação do Congresso Nacional, sem prestar contas sobre os Postos Indígenas fechados do Oiapoque ao Chuí (excessão feita às coordenações politicamente estratégicas), o atendimento negado, os direitos suprimidos, as licitações para compra de combustíveis suspensas, os servidores afastados, a Compra de Lideranças e o Atendimento Condicionado Como Práxis Adminsitrativa e a Omissão Voluntária na Proteção Física e Cultural dos Povos Indígenas Como Política de Estado, abrindo caminho para os tratores genocidas e etnocidas do Programa de Aceleração Criminosa (PAC), levando a cabo Crimes Contra a Humanidade.

O silêncio, podemos concluir da fala de Ghiraldelli, abre caminho para os Crimes Contra a Humanidade, como ocorreu em passado historicamente recente na Alemanha ou, mais recentemente ainda, na antiga Iugoslávia (ou ainda, para fechar, complementando o raciocínio, é o silêncio que hoje alimenta as violações aos Direitos Humanos - mais especificamente, contra Povos Indígenas - no Chile, Brasil, Colômbia, Peru, México, EUA e demais países das Américas).

É o silenciamento de 5 séculos sobre a questão indígena no Brasil que gera o entendimento que os Povos Originários, por receberem proteção do Estado e possuirem legislação especial, possuem "privilégios e terra demais" - e alimenta o ódio por meio de discursos como o de Rosenfield que se disseminam e se capilarizam no senso comum neo-brasileiro (e guiam tanto as mãos do policial que espanca manifestantes indígenas - e as do menino rico que ateia fogo no índio que dorme na rua - quanto àquelas que publicam atos administrativos criminosos, tais como o decreto 7056/09 e a canetada ministerial, de autoria de Luiz Paulo Barreto, genocida operando no Ministério da Justiça, que suspende as garantias mínimas para a sobrevivência do Povo Kaiowá).

O filósofo pede à Academia que não se renda aos discursos que reproduzem um senso comum cuja gênese está na ideologia dos bandeirantes e dos intolerantes capitães do mato, que tente aprender no convívio com o Outro (tão próximo) antes de cair na tentação de escrever sobre o mesmo (ou mesmo ante a tentação de escrever sobre o país chamado Brasil), que não caia no reducionismo fácil, escolar, que pautam os discursos de dominação tanto nas ruas quanto no Planalto - pois o sangue vertido, seja fruto da violência bruta e inusitada ou do (maquiavelicamente) planejado decreto presidencial, é o mesmo.

É preciso que Academia aprenda com o indígena, é necessário que se busque apreender, de uma vez por todas, o logos ameríndio para montar um contra-discurso que neutralize o ódio, o escárnio e a indiferença; é preciso tomar partido nesse movimento de esclarecimento da população neo-brasileira contra as trevas da Ignorância e da Má-Vontade e, desse modo, desarmar esse senso comum, presente até os dias de hoje, pautado pela Dominação Política, Jurídica e Tecnológica e pelo Extermínio Alimentado pelo Silêncio e a Indiferença; o filósofo deve auxiliar a sociedade a se despir dos seus ódios e preconceitos, nascidos do cristianismo e do eurocentrismo, e o pensador nativo deve estar a serviço dos Povos Originários - assessorando-os, no que for possível, na hercúlea tarefa de civilizar de uma vez por todas, com a sua generosidade e a sua riqueza, os cidadãos não-indígenas nascidos nesse país, tornando-os mais humanos e mais brasileiros (sejam esses indivíduos ocupantes do Palácio do Planalto ou do barraco mais humilde, do rancho mais distante).




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